2.15.2007

Sobre o carnaval...


"Você deve notar que não tem mais tutu
E dizer que não está preocupado
Você deve lutar pela xêpa da feira
E dizer que está recompensado
Você deve rezar pelo bem do patrão
E dizer: "Tudo tem melhorado"
Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com teu Carnaval?
(Luiz Gonzaga Jr.)"


Bom, como eu já havia prometido, vou explicar porque o carnaval, para mim, é um dos tempos mais irritantes da face da terra.
Primeiro, deixo claro que não trato aqui do samba, da vibração, da festa ou mesmo dos poucos momentos de alegria que uma parte considerável do povo brasileiro tem.
O que me irrita é todo esse clima “global”, é ligar a televisão no vídeo show e ouvir dizer que a “garota globeleza” é a típica mulher brasileira, isso enquanto passa a dita (linda, por sinal) sambando nua, bem sorridente, ao sabor da “típica mulher brasileira” do imaginário gringo que realmente acredita que toda mulher brasileira é assim, e de outros malucos nacionais.
Não pretendo aqui, fazer nenhum discurso moralista contra a nudez (eu adoro a nudez rsrs), mas contra a mentalidade, as idéias, os comentários, e os assédios, com os quais as mulheres lidam todos os dias. Não se conquista respeito se não se cultiva respeito. Não se pode esperar um tratamento mais justo, mais igualitário, se todos os anos brinca-se de “submissa” ao bel prazer masculino. Brincar com idéias terríveis é pior do que plantar vento. Não falo de pureza, não ousaria falar de pureza em um mundo como nosso, falo de viver dignamente e não apenas em sobreviver; Isso jamais vai ocorrer enquanto se permitir, mesmo em brincadeira de carnaval, a exposição de pessoas como objetos. (Ok, já não preciso explicar por essa nova onda funk é desprezível, né?)
Uma brincadeira, uma piada racista ou machista, pode ser encarado como algo sem importância, mas que sustenta violências muito maiores, muito mais difíceis de serem controladas.
É mais ou menos isso que penso sobre certas coisas típicas do nosso carnaval, não que em todo ele haja esse tipo de coisa, mas numa parte central, que se extraída ou atenuada, o tornaria tão diferente de como o conhecemos que talvez não fosse popular.
A riqueza cultural do carnaval, dos sambas enredo, das histórias e lutas pessoais de cada escola, do frevo, das pessoas, do ritmo das baterias, é incontestável e a intenção aqui de forma alguma é depreciar tudo isso.
Mas certas coisas precisam ser seriamente repensadas por nós, povo brasileiro, para que não nos passemos por tolos em uma semana de ilusão enquanto todo o resto do ano crepita em meio a violência e ao desespero, a miséria e ao absurdo valor ínfimo que vem adquirindo lentamente o respeito à vida humana.

Ok, o texto foi improvisado e feito na pressa, e sei que haverão muitas opiniões antropológicas e sociológicas defendendo o carnaval.
Como eu disse minha raiva não é do carnaval...

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